O encanto natural de crianças de
todas as idades e realidades sociais pelo brincar nos fez pensar em utilizar
as brincadeiras nas aulas de matemática.
Observando
as crianças, lendo sobre como elas aprendem, buscando formas de tornar mais
significativa e prazerosa sua aprendizagem matemática fomos nos convencendo
cada vez mais da importância das brincadeiras e percebendo que elas se
constituíam na possibilidade das crianças desenvolverem muito mais que noções
matemáticas. Enquanto brinca o aluno amplia sua capacidade corporal, sua
consciência do outro, a percepção de si mesmo como um ser social, a percepção
do espaço que o cerca e de como pode explorá-lo. Daí nasceu a idéia de
apresentar no site essa seção que traz sugestões para o uso das brincadeiras
nas aulas de matemática com crianças da escola infantil.
COMO PROPOR AS BRINCADEIRAS
·
Pensamos que a brincadeira para ser útil para
as crianças deve conter alguma coisa interessante e desafiadora para elas
resolverem.
·
A brincadeira escolhida deve permitir que todos
os jogadores possam participar ativamente, desencadear processos de
pensamento nas crianças possibilitando que elas possam se auto-avaliar
quanto a seu desempenho.
·
As brincadeiras são apresentadas das mais
simples até variações mais complexas e não precisam ser esgotadas as de um
mesmo tipo para se iniciar as de outro.
·
É importante também que o professor abra espaço
para brincadeiras que as próprias crianças (ou ele mesmo) conheçam ou
queiram inventar.
·
As brincadeiras precisam ser feitas uma ou duas
no máximo por mês, em uma aula por semana, durante todo o mês para que os
alunos aprendam a brincar e também compreendam os conceitos matemáticos
nela envolvidos.
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Para saber mais:
Brincadeiras
infantis nas aulas de matemática. Kátia Stocco Smole, Maria Ignez Diniz,
Patrícia Cândido, editora ARTMED, coleção Matemática de 0 a 6.
Vamos pular
amarelinha ?
Cristiane Chica
Recomendado para crianças a partir
dos 4 anos.
Conteúdo: Números, noção de espaço
e medidas.
Competências e habilidades:
Reconhecimentos de algarismos, seqüência numérica, contagem e comparação de
quantidades. Avaliação de força e distância.
Rexursos: amarelinha desenhada no
chão.
Amarelinha
Quem não conhece a amarelinha? É uma das mais tradicionais brincadeiras de
rua deste país. Nela a criança tem de pular - ora com um pé só, ora com os
dois - sobre quadrados riscados no chão, evitando pisar na casa onde foi
lançada a pedrinha com que se marca a progressão em direção ao
"céu", o ponto final da brincadeira.
Durante o jogo, é
preciso abaixar sem encostar um dos pés no chão, rodopiar no ar,
deslocando-se ora para um lado, ora para o outro, ora para frente, ora usando
as mãos, ora os pés. É um exigir constante do controle sobre o corpo e o
espaço.
Adotar a amarelinha nas aulas de matemática significa poder desenvolver a
inteligência corporal a partir das relações realizadas entre as crianças com
seus recursos corporais e elementos do meio.
Além do desenvolvimento do esquema corporal e noção espacial, podemos dizer
que a amarelinha também auxilia no desenvolvimento de noções de medidas e
números.
Ao lançar a pedrinha no quadrado desejado é preciso avaliar a quantidade de
força a ser colocada na mão, avaliar a distância entre o corpo e a casa
atingida.
Contagem, seqüência numérica, reconhecimento de algarismos, comparação de
quantidades, são alguns conceitos e habilidades que podemos desenvolver a
partir desse trabalho.
Você já havia notado quanta matemática podemos explorar numa simples
brincadeira?
A
amarelinha tradicional:
Desenvolvimento:
- As crianças devem decidir a ordem dos jogadores, ficando
a primeira de posse da pedrinha;
- Cada jogador, ao chegar a sua vez, se coloca atrás da
linha de tiro, de frente para o diagrama, e atira a pedrinha na casa
número 1. Aproxima-se, então do diagrama, pulando a casinha onde está a
pedrinha, caindo com os dois pés no 2 e no 3, com um pé só no 4 e
repetindo esta seqüência até chegar ao 10. Na volta, sem entrar na casa
número 1, nem pisar nela, ela deve pegar a pedrinha com os pés nas casas
antecedentes, no caso, 2 e 3. Deve pular a casa 1 e agora arremessar a
pedra à casa número 2, repetindo o mesmo processo, e assim sucessivamente
até chegar a última casa ou até errar, quando então cede a sua vez ao
seguinte.
- Constituem erros jogar a pedrinha fora da casa desejada
ou sobre uma linha da figura; apoiar-se com dois pés no interior de uma
mesma casinha; trocar o pé de apoio durante o percurso e esquecer de
pegar a pedrinha.
- Depois de cada criança ter tido sua vez, o primeiro
recomeça da casa onde estava ao errar, e assim por diante, até alguém
alcançar o 10.
- Vence quem terminar a amarelinha toda primeiro.
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Dicas para iniciar a brincadeira
pela primeira vez:
Faça
uma roda com os alunos e pergunte a eles:
-
Quem conhece a amarelinha?
-
Quais os tipos de amarelinha que conhecem?
-
Deixe que desenhem como elas são.
-
Como se joga a amarelinha?
-
Como podemos organizar essa brincadeira?
-
Como se decide quem joga primeiro?
Após levantar o que os alunos sabem sobre essa brincadeira, a professora pode
propor que todos vão conhecer uma amarelinha .
Pode-se iniciar explorando com as crianças somente a maneira de pular, uma
vez que não é simples esse pular, elas precisam coordenar muitas ações ao
mesmo tempo. Num outro momento então, pode-se ensiná-las como é a
brincadeira. Enquanto algumas crianças são convidadas a iniciar, as demais
observam sentadas em círculo ao redor do diagrama. Uma criança também pode
auxiliar a outra.
Uma nova organização da classe:
Quando os alunos já estiverem familiarizados com a brincadeira, o professor
pode desenhar de dois a quatro esquemas da amarelinha para que possam
brincar, sendo que em cada grupo seja colocado duas crianças que já tenham
maior conhecimento para auxiliar as demais.
Ao final, reúna a turma para fazer um fechamento da atividade: pode ser uma
roda onde os alunos falem sobre como foi jogar, o que foi fácil e o que foi
difícil, tomem decisões sobre como realizar a brincadeira numa próxima vez,
ou realizar um desenho da brincadeira, ou ainda produzir um texto coletivo
sobre as regras aprendidas.
Repita a brincadeira, pelo menos umas quatro vezes, para que todas as
crianças tenham oportunidade de aprender a brincadeira e superar suas
dificuldades, vencendo os desafios propostos, bem como, apreender todas as
regras.
A
LEITURA E A LITERATURA NAS AULAS DE MATEMÁTICA
Equipe do Mathema
Há tempos, diferentes autores vêm escrevendo sobre a importância da
literatura infantil no aprendizado da língua materna, escrita e falada.
Também é conhecida a riqueza do potencial literário para a alfabetização
devido ao estímulo que representa na construção do código da língua escrita.
Nós do Mathema há alguns anos temos pesquisado sobre formas de integrar a
literatura também nas aulas de matemática. Nesse tempo, para além da
contribuição com a formação do leitor e do escritor, vimos que integrar
literatura nas aulas de matemática representa uma substancial mudança no
ensino tradicional da matemática, pois, em atividades deste tipo, os alunos
não aprendem primeiro a matemática para depois aplicar na história, mas
exploram a matemática e a história ao mesmo tempo.
Interrogado pelo texto, o leitor volta a ele muitas vezes para acrescentar
outras expectativas, percepções e experiências. Desta forma, a história
contribui para que os alunos aprendam e façam matemática, assim como explorem
lugares, características e acontecimentos na história, o que permite que
habilidades matemáticas e de linguagem desenvolvam-se juntas, enquanto os
alunos lêem, escrevem e conversam sobre as idéias matemáticas que vão
aparecendo ao longo da leitura. É neste contexto que a conexão da matemática
com a literatura infantil aparece.
Através da conexão entre literatura e matemática, o professor pode criar
situações na sala de aula que encorajem os alunos a compreenderem e se
familiarizarem mais com a linguagem matemática, estabelecendo ligações
cognitivas entre a linguagem materna, conceitos da vida real e a linguagem
matemática formal, dando oportunidades para eles escreverem e falarem sobre o
vocabulário matemático, além de desenvolverem habilidades de formulação e
resolução de problemas enquanto desenvolvem noções e conceitos matemáticos.
Veja a seguir alguns cuidados que você precisa ter para desenvolver as
propostas entre matemática e histórias infantis:
·
Conhecer a história antes de apresentá-la aos
seus alunos para saber quais as possibilidades de trabalho que ela permite e
se estão adequadas à sua classe.
·
Lembrar que nenhuma exploração matemática pode
vir antes da própria história e nem tampouco deturpar o sentido da história.
·
O primeiro requisito para uma exploração de
matemática a partir de um livro de histórias é que as crianças gostem e se
envolvam com ele, com os personagens, etc.
·
O ideal não é explorar um livro a semana toda,
mas aos poucos, com emoção, expectativa, problematizações especialmente
preparadas para isso. Temos sugerido ao professor que ele faça isso em uma
aula por semana, assim um mesmo livro pode levar um ou dois meses sendo
trabalhado com a turma.
·
Não há necessidade de um livro para cada aluno.
Você pode ter um livro por duplas, grupos de 4 ou mesmo um único livro em
transparência, álbum seriado, etc.
Vale deixar claro finalmente que não pretendemos que a literatura para as
crianças fique subjugada ao trabalho com a matemática, uma vez que sabemos
ser o encanto e o prazer por ler as histórias a primeira e principal função
da literatura na escola, em qualquer idade.
Para saber mais: Matemática e Literatura Infantil, Kátia Stocco Smole,
Patrícia Cândido e Renata Stancanelli. Belo Horizonte, Ed. Lê, 1999
Bem-me
quer, mal-me-quer.
Margarida
par, ou margarida ímpar?
Atílio
Bari
A história desse livro pode ser vista em Mathema Recomenda.
Conteúdos: números
Objetivos: leitura, escrita e resolução de problemas;
realizar contagens; perceber que os números naturais podem ser
classificados em pares ou ímpares.
1ª etapa - Leitura preditiva
-Comece fazendo um círculo com sua classe e explorando
detalhes do livro antes de ler a história. Que livro é esse? Quem
conhece? Quem já viu uma margarida? O que tem nessa capa? Do que será que
a história vai falar?
-Proponha a eles que escrevam uma história coletiva sobre as
primeiras impressões que tiveram da capa do livro. Eles podem inventar a
história e guardar para voltarem a ela quando tiverem lido o livro todo.
2ª etapa - conhecendo a história
-Faça uma leitura pausada com a classe, parando para criar
algum suspense, ou fazer uma problematização durante a leitura. Por
exemplo, parar a leitura na página 8 e discutir com o grupo a pergunta do
Bacana.
-Aproveite ainda para conversar com eles o que sabem sobre
par e ímpar, como eles brincam de par ou ímpar em um jogo, como fazem
para saber se um número é par ou ímpar. Deixe que expliquem e depois
organize com a classe um texto coletivo, ou uma lista de formas para
decidir se “ é par, ou ímpar”.
-Deixe de tarefa de casa que peçam ao pai ou à mãe um exemplo
de número ímpar entre 0 e 50 e um exemplo de número par no mesmo
intervalo. No dia seguinte prepare uma tabela na qual de um lado sejam
marcados os números pares e de outro os ímpares. Eles devem colocar os
números ditos pelos pais no lado certo da tabela e depois de todos terem
feito isso, você pede para que todos observem a tabela e falem tudo o que
descobrirem. Anote as respostas no quadro e depois solicite que registrem
no caderno. Provavelmente devem surgir comentários tais como os números
pares terminam em 0, 2, 4, 6 e 8; os ímpares começam no 3, etc.
-Peça que voltem à página 9 do livro e que analisem agora as
respostas de Risonho e que vejam porque o Bacana achou que elas estavam
certas.
-Desafie-os a descobrirem um segredo na numeração das páginas
do livro e explicarem oralmente o que é.
-Se você fosse a Lindinha, acreditaria no Risonho? Por quê?
3ª etapa: Os desafios do Arlequim
-Peça a eles que encontrem o Arlequim e descubram o que ele
é.
-Analise a roupa dele e as formas geométricas que aparecem.
Faça uma lista.
-Em um outro momento dê figuras geométricas variadas e
coloridas e peça que criem um novo chapéu para o Arlequim, depois discuta
cada um, analise as figuras e organize uma exposição na escola dos
chapéus de Arlequim apresentados pelos alunos.
-Peça para que investiguem em quais páginas o Arlequim
aparece, fazendo o que. Eles devem descobrir quantas vezes ele aparece em
páginas pares e quantas vezes em páginas ímpares.
-Escolha alguns dos desafios do Arlequim para propor aos
alunos, usando estratégias diferentes para explorar cada um. Por exemplo,
propondo que resolvam em duplas; ou propor uma dramatização (os das
páginas 17 e 20 são bons para isso); fazendo com o problema do camelo o
que chamamos de problema da semana, ou seja, um problema que fica em um
mural na classe durante uma semana, para que os alunos anexem suas
soluções. Ao final a professora conduz uma discussão coletiva sobre as
diferentes soluções que forem apresentadas.
4ª etapa
- Apareceu a margarida
-Releia com eles a página 14 e discutam como o Bacana está
ensinando ao Risonho a contar as pétalas das margaridas.
-Pergunte por onde deveriam começar a contar caso a margarida
tivesse 15 pétalas, e se tivesse 32?
-Brinque com o bem-me-quer, mal-me-quer dando a eles uma
seqüência dessas expressões. Eles devem ler a seqüência, descobrir se ela
foi dita para uma margarida par ou uma margarida ímpar e tentar descobrir
quantas pétalas a margarida desfolhada naquela seqüência tinha. Por
exemplo bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer,
bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer,
mal-me-quer, bem-me-quer, é uma seqüência para uma margarida ímpar,
de 11 pétalas. Se eles tiverem dúvidas volte com eles a ler as páginas 12
a 15 do livro.
-Peça que façam uma estimativa do número de pétalas que uma
margarida pode ter. Organize as estimativas deles em uma tabela. Se
desejar faça um gráfico a partir da tabela que mostre as estimativas
(para saber mais sobre gráficos veja na Seção Recreio uma possibilidade
de trabalho). Eles podem fazer um desenho sobre isso.
-Compre margaridas para eles despetalarem, contarem e analisarem
os seguintes pontos: se fossem fazer bem me quer, por onde começariam
contar nas suas margaridas? A diferença entre o número de pétalas das
margaridas é grande? Qual é o maior número de pétalas que encontraram? E
o menor?
-Volte com os alunos para as estimativas que eles fizeram e
discuta quais foram as melhores estimativas e porque.
-Proponha que façam seqüências de bem-me-quer, mal-me-quer
para as margaridas deles e que troquem entre si para um descobrir o
número de pétalas da margarida um do outro.
5ª etapa- Fechando o trabalho
-Para encerrar o trabalho, proponha que façam uma
dramatização da história. Eles podem planejar como farão - fantoches,
teatro de sombras, etc- constróem o cenário, ensaiam e apresentam para
uma outra classe.
- É interessante também que os alunos em duplas, ou trios,
produzam um texto explicando tudo o que aprenderam com a leitura e o
trabalho realizado a partir do livro.
Fotos e produções dos alunos
do Colégio Magno cedidas pela coordenadora de matemática da escola Estela
Milani
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Um
conto fantasmagórico inspira uma lição sobre alguns conceitos básicos da
disciplina: números, frações, medidas de tempo, estimativas, cálculos...
Kátia
Cristina Stocco Smole
RECADO DE FANTASMA
Tudo começou quando nos mudamos para aquela casa. Era um antigo
sobrado, com uma grande varanda envidraçada e um jardim. Eu me sentia
tão feliz em morar num lugar espaçoso como aquele, que nem dei atenção
aos comentários dos vizinhos, com quem fui fazendo amizade. Eles diziam
que a casa era mal-assombrada. Alguns afirmavam ouvir alguém cantando
por lá às sextas-feiras.
-Deve
ser coisa de fantasma! - falavam.
- Se
existe, nunca vi! - E então contavam a eles que as casas antigas, como
aquela, com revestimentos e assoalho de madeira, estalam por causa da
mudança de temperatura. Isso é um fenômeno natural - conforme meu pai
havia me explicado. Mas meus amigos não se convenciam facilmente.
Apostavam que mais dia, menos dia eu iria levar o maior susto.
Certa noite, três anos atrás, aconteceu algo impressionante. Meus pais
haviam saído e eu fiquei em casa com a minha irmã, Beth. Depois do
jantar, fui para o quarto montar um quebra-cabeça de 500 peças, desses
bem difíceis. Faltava um quarto para a meia-noite. Eu andava a procura
de uma peça para terminar a metade do cenário quando senti um ar gelado
bem perto de mim. As peças espalhadas pelo chão começaram a tremer. Vi,
arrepiado, cinco delas flutuar e depois se encaixar bem no lugar certo.
Fiquei tão assustado que nem consegui me mexer. Só quando tive a
impressão de ouvir passos se afastando é que pude gritar e sair
correndo escada abaixo.
Minha irmã tentou me acalmar, dizendo que tudo não passava de
imaginação mas eu insisti e implorei que ela viesse até o quarto
comigo. Uma segunda surpresa me esperava: o quebra-cabeça estava
montado, formando a imagem de uma casa com um jardim bem florido. No
entanto, meu Jogo formava o cenário de uma guerra espacial, eu tinha
certeza!
No dia seguinte, fui até a biblioteca pesquisar o tema. Eu e Beth
encontramos dúzias de livros que tratavam de fatos extraordinários e
aparições. E a explicação para eventos desse tipo foi a seguinte:
Espaço reservado para
a imaginação da turminha
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Hoje minha casa tem o jardim mais bonito da rua.
Centenas de lindas margaridas brancas florescem a maior parte do ano
(para total espanto da vizinhança). O
fantasma? Nunca mais vi. Decerto passeia feliz pelo jardim, nas
noites de lua cheia.
Conto de Flavia Muniz
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MATEMÁTICA
? NÃO TEM TERROR
Uma aula de Matemática baseada num conto de terror? Parece estranho, não
é mesmo? Ainda mais para quem se acostumou a pensar nessa área como um
território quase que exclusivo dos números. No entanto, já faz algum
tempo que diferentes pesquisadores vêm propondo o uso de diferentes tipos
de texto nas aulas da disciplina. Em qualquer setor do conhecimento, a leitura
deve possibilitar a compreensão de linguagens diversas, de modo que os
estudantes adquiram mais autonomia na aprendizagem.
O conto de Flávia Muniz, além
de tratar de um tema que fascina os alunos das séries iniciais, está
repleto de termos e informações que permitem abordar vários conceitos
matemáticos, bem como desenvolver habilidades de leitura e interpretação
de textos. Acompanhe a seguir o roteiro desenvolvida por Kátia Stocco
Smole, coordenadora do grupo Mathema, de São Paulo.
Matemática
Tema: números,
tratamento da informação, medidas de tempo, resoluções de
problemas
Objetivos: aprender a ler
informações matemáticas num texto; resolver problemas; calcular
frações de quantidade discreta e frações de tempo; realizar
estimativas; fazer cálculos utilizando noções de dúzia e centena;
compreender que o uso de termos matemáticos em um texto permite criar
efeitos de sentido.
Dica: o trabalho pode
exigir de 3 a 8 aulas. Durante as atividades, incentive a discussão
de diferentes idéias, das respostas e soluções encontradas pelos
alunos. Garanta também que eles registrem no caderno as conclusões
que tirarem e as descobertas que realizarem.
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Para ler Matemática
Divido os alunos em pequenos grupos e peço
que leiam o conto - ou leia com eles. Procure primeiro explorar os
aspectos lingüísticos e a narrativa como um todo (veja as sugestões para Língua Portuguesa no quadro e
comece por eles). Feito isso, sugira que todos procurem no texto as
palavras e expressões que podem ser relacionadas à Matemática. Observe
que há números naturais, fracionários, ordinais, formas de contagem e
agrupamento, medidas de tempo e noções de adição e subtração. Ajude-os a
elaborar uma listagem e incentive-os a escrever outras frases com os
termos encontrados. Isso é uma forma de ensinar a ler Matemática.
Volte ao trecho que fala sobre
"dúzias de livros” e pergunte: sobre que assunto devem ser os
livros? O que a autora quis dizer com dúzias? Discuta a sentido
metafórico da frase e explique coma a idéia de dúzia serviu para criar um
efeito de exagero, um sentido de grande quantidade. Então, proponha que a
turminha identifique no texto outra passagem em que isso acorre
("centenas de margaridas”). Encomende uma pesquisa sobre outras
expressões que usamos quando ignoramos a quantidade exata mas queremos
dar a impressão de abundancia. Par exemplo: pilhas de livros; montanhas
de tarefas; um mundo de possibilidades.
Aproveite
para apresentar problemas ligados ao conto:
·
Tome a frase "Certa noite, três anos atrás, aconteceu algo
impressionante”. Supondo que o texto tenho sido escrito em 2002, pergunte
em que ano esse “algo impressionante” ocorreu. A leitura do texto permite
saber que ele foi escrito em 2002? Por que ?
· Destaque o trecho “Faltava um quarto paro
meia-noite” e questione: que horas eram exatamente quando o narrador
sentiu um ar gelado? Retome a leitura de horas e lembre as formas pelas
quais podemos expressar noções de tempo. O que mudaria no texto se
em vez de um quarto paro meia-noite a autora escrevesse um quarto
após a meia-noite? O texto teria o mesmo efeito se a
ação se posasse faltando um
quarto para meio-dia?
·
Se o quebra-calbeças era de 500 peças e faltava apenas uma para completar
metade do cenário, quantas delas já haviam sido colocadas em seus
lugares? Depois que as cinco
peças flutuaram e foram encaixadas, quantas ficaram no jogo? Naquele
momento, quantas peças ainda faltavam para completar o quebro-cabeça ?
Outra possibilidade é estimular a classe a dar um
nome ao fantasma e a criar problemas com novas aventuras protagonizados
por ele. Os problemas devem ser formulados em duplas e depois discutidos
por todos, podendo até gerar um
livro com contos e ilustrações da criançada. A elaboração de problemas coloca o estudante na posição de
autor e permite a cada um controlar a própria narrativa, as informações que desejo usar e
como elos serão inseridas no texto.
Oriente também a confecção de um gráfico.
Diga que na história um suposto fantasma assusta e espanta. O que será
que provoca medo na maioria dos alunos da classe? Organize uma pesquisa
para responder à pergunta. Com os dados obtidos, leve a garotada a criar
uma tabela. Mostre como esses resultados
podem ser expressos por meio de um gráfico. Para finalizar, convide todo
mundo a produzir um artigo de jornal que seja ilustrado pelo gráfico e
inclua as
conclusões tiradas da pesquisa.
Para concluir, organize a classe em equipes de quatro alunos e desafie
cada um a bolar as regras de um Jogo de percurso baseado no conto de Flávia
Muniz. Peço que todos tragam de casa jogogs do gênero. Como são esses brinquedos? Que tipo de regras e obstáculos eles
têm? Cada grupo cria um cenário que pode conter partes da história, seus
personagens e os sustos
vividos. Em seguida, as equipes escrevem os
números em pequenos círculos de papel, colam na trilha (respeitando a
ordem) e colocam os obstáculos.
Depois de redigir as regras
numa folha de papel à parte, todos jogam o próprio jogo e o dos colegas.
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Preenchendo
lacunas
Além de instigar a curiosidade e gelar a barriga, Recado de Fantasma abre espaço
para o leitor interagir. Entre os dois últimos parágrafos, há uma
lacuna esperando que a turminha desvende os fenômenos misteriosos do enredo. Indique as informações
dados pelo narrador sobre o fantasma inclusive no desfecho da
história. Sugira que os alunos
forneçam explicações que respeitem a lógica do texto. Existe mesmo um
fantasma? Quem ele era quando estava vivo? Por que esse estranho personagem trocou a imagem do quebro-cabeça? Qual
foi SUa intenção ao
fazer as peças do jogo
"flutuarem" ?
A imaginação é o limite.
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Quer saber mais?
Bibliografia
Aprendendo
Matemática, César ColI e Ana Teberosky, 264 págs., Ed. Ática
Ler,
Escrever e Resolver Problemas: Habilidades Básicas para Aprender
Matemática,
Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz, 200 págs., Ed. Artmed
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Texto
publicado na revista
NOVA ESCOLA Nº 153 – Junho/Julho
- 2002
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